
Na renda variável, um ativo que teve forte valorização vira candidato à venda por investidores que aprenderam a regra de comprar na baixa e vender na alta. No entanto, as small caps brasileiras vêm desafiando essa lógica nos últimos meses. Enquanto o Ibovespa sobe cerca de 11% em 2025, o SMLL, índice que mede o desempenho das small caps, avança 18,5% no ano. Mesmo com a alta expressiva, investidores não parecem estar dispostos a vender as ações de empresas com baixo valor de mercado.
Especialistas disseram ao InfoMoney que a recente alta das small caps é fruto de uma correção nos preços desses ativos: “após anos sendo evitadas, elas passaram a atrair fluxo por estarem muito descontadas em relação às blue chips (ações de grandes empresas)”, diz Fernando Camargo Luiz, sócio-fundador da Garoa Wealth Management.
Por isso, o avanço superior a 18% não deve ser o fim da história de sucesso em 2025. Mas, mesmo com o otimismo, as oportunidades não devem se apresentar para todos, já que essas ações são mais voláteis, menos líquidas e de empresas menos conhecidas, o que pode dificultar o acesso à informação.
O que explica a alta das small caps?
Apesar do rali, os múltiplos de valuation permanecem atrativos. “O SMLL negocia a cerca de 8,7 vezes o lucro futuro, abaixo da média histórica, o que indica que ainda há desconto relevante quando comparado ao Ibovespa e a mercados desenvolvidos”, argumenta Regis Chinchila, analista da Terra Investimentos.
O especialista explica que o principal motor da valorização de small caps em 2025 é a rotação global de portfólios, que levou investidores estrangeiros à procura de mercados emergentes e de ativos descontados, com potencial de valorização. Werner Roger, CIO da Trigono Capital, explica que, por uma questão de praticidade, os estrangeiros geralmente compram via ETFs e olham principalmente para o desconto dos papéis: “não importa o valor, se está descontado, compram”.
Outro fator fundamental para o recente sucesso das small caps é a expectativa pelo corte de juros. Para o mercado, o ciclo de alta da Selic já terminou e o Banco Central deve começar a cortar os juros em 2026, o que vai impulsionar as cotações de empresas menores.
Se as ações que compõem o Ibovespa são ativos já considerados arriscados e que se beneficiam de um cenário de afrouxamento monetário, as ações de empresas menores são ainda mais associadas ao risco, já que têm liquidez menor e são mais voláteis. Por isso o corte de juros beneficia ainda mais esses papéis. Além disso, o crédito mais barato e acessível alivia os balanços de empresas que podem ter dificuldade de renegociar dívidas ou acessar o mercado de capitais.
Por que investir em small caps agora?
Os fatores que explicam a alta já realizada até aqui em 2025 também ajudam a explicar o otimismo com o futuro. Os juros são um dos principais argumentos para a projeção positiva da Trigono, que compartilha uma estatística animadora: a gestora analisou os últimos cinco ciclos de cortes de juros no Brasil e chegou a conclusão de que, em média, para cada ponto percentual a menos na Selic, as small caps subiram 11,6%. Logo, se a tendência se repetir, ainda há muito valor a ser destravado nessas ações, já que o início do próximo ciclo de cortes de juros só está programado para o próximo ano.
Além da expectativa, Chinchila diz que os balanços das empresas menores devem começar a justificar o investimento, já que “elas tendem a reagir mais fortemente à melhora no ambiente macroeconômico”. Ou seja, há espaço para valorização com a projeção de uma Selic mais baixa e, depois, o crescimento dessas empresas também deve ter impacto positivo nas cotações.
A diversificação de portfólio é outro dos benefícios citados pelos analistas para investir em small caps. Enquanto o Ibovespa é concentrado em commodities e grandes bancos, é possível encontrar em empresas menores teses ligadas à tecnologia, educação, varejo regional, saúde e energia renovável, “setores menos maduros e com maior espaço para expansão”, pontua Chinchila.
Camargo destaca que “várias empresas com fundamentos sólidos continuam sendo negociadas a múltiplos deprimidos”, mas lembra que “a seletividade é essencial” e que “há, sim, ciladas disfarçadas de barganhas, com baixa governança, riscos de liquidez ou estrutura de capital frágil”.
Investimento via ETFs ou stock picking?
“Enquanto empresas maiores têm dados amplamente disponíveis e mais previsibilidade, as small caps requerem estudo profundo de fundamentos para entender o modelo de negócios, a qualidade da gestão, geração de caixa e alavancagem financeira”, diz Regis Chinchila. Para ele, o ETF é “um veículo seguro para capturar o potencial do segmento sem se expor a riscos específicos de forma concentrada” para quem não tem tempo ou experiência para analisar balanços.
Com as “ciladas disfarçadas de barganhas” no mercado, investir em small caps via ETFs é mais vantajoso para a maioria dos investidores, segundo Fernando Camargo. Quem quer fazer a seleção individual das ações — stock picking — deve focar na avaliação da governança, liquidez, fluxo de caixa e dependência setorial ou geográfica, recomenda o especialista da Garoa.
Já no ETFs, os investidores têm algumas opções de fundos que replicam o desempenho do SMLL, como o SMLL11, o XMAL11 e o SMAB11. Outros têm estratégias diferentes, com o TRIG11, da Trigono, que investe em empresas que representam até 5% da capitalização total do mercado. A metodologia do índice que o ETF segue prevê a venda dos papéis que se valorizam e compra de ações que perderam valor: “no fim das contas, o ETF compra o que cai e vende o que sobe, como se estivesse realizando lucro”, explica Werner Roger.
Já a Investo aposta no SCVB11, que “usa uma metodologia baseada em ciência para selecionar empresas subavaliadas e eliminar small caps caras”, segundo Danilo Moreno, especialista de ETFs da gestora. “Isso economiza tempo e esforço do investidor, além de oferecer um acesso mais fácil e custos geralmente menores do que montar uma carteira e fazer a gestão por conta própria”, completa Moreno.
Para quem são as small caps?
As ações de empresas menores representam, agora, uma oportunidade de valorização acima da média do mercado. No entanto, os especialistas ponderam que os maiores ganhos são acompanhados de riscos. Logo, “small caps são recomendadas para investidores com perfil mais tolerante à volatilidade”, segundo Fernando Camargo.
Um horizonte de “médio a longo prazo” também é uma característica essencial para o investidor que quer comprar essas ações, segundo Chinchila, da Terra Investimentos. Os especialistas ainda recomendam um alto nível de diversificação do portfólio, para não concentrar a carteira nesses papéis, que são mais voláteis e podem trazer prejuízos rapidamente.
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